15-10-2017
Fez ontem um ano que passei a noite mais angustiante da minha vida...
Sem saber se os meus pais estavam bem, sem conseguir falar com ninguém por telefone, ia apanhando alguma informação pelo facebook e percebendo a gravidade da situação. Nos poucos minutos em que era possível manter a chamada em linha com alguém, ouvia gritos de pânico e estoiros como se fossem tiros. O som de fundo parecia o de um filme de guerra. Sabia que o fogo tinha rodeado a aldeia...
A meio da noite, quando finalmente consegui falar com a minha mãe, respirei fundo por saber que estavam a salvo. Ao telemóvel com o meu pai e já pela madrugada dentro, imaginava o que ele me ia descrevendo, com o uivo do vento a tornar ainda mais difícil a comunicação. O fogo galgava quilómetros em minutos e estava no meio da aldeia, a consumir casas cheias de história, habitadas e por habitar... um sufoco que em nada se compara com as tragédias que conheci nos dias seguintes... Felizmente arderam-nos pinheiros, oliveiras, o armazém, a quinta e as casas da quinta, sobrando estranhamente a casa grande, como que guardada pelo meu Avô que já não está entre nós. Outros não tiveram a mesma sorte. Na aldeia, o nascer do dia mostrava o pior e nem a escola primária escapou... Infelizmente perderam-se vidas de pessoas como nós, podíamos ter sido nós. De repente tudo se questiona. Fica a boa vontade de muitos bravos e incansáveis. A culpa, anda como sempre a vaguear por aí, livre e solteira...
Nas semanas seguintes ao fogo, não tive mãos a medir para tanta ajuda que chegou de todo o lado. Eu e tantas outras pessoas, demos aquilo que tínhamos, uns bens, outros tempo, outros ajuda, para levar a quem perdeu tudo. Ainda hoje o cinzento está presente.
Agora, temos pinheiros para cortar porque os que não arderam no fogo, foram atacados por uma praga e estão a morrer. É preciso cortá-los para não deixar alastrar aos outros. Tem sido o trabalho de alguns fins de semana, em que trocamos a cidade pela aldeia e pomos mãos ao trabalho.
No último sábado que estivemos na aldeia, fiz uns rápidos bolinhos fritos, com cheiro a canela, para acompanhar um café forte ali mesmo, no pinhal. Quando se trabalha assim, é preciso recuperar forças e esta pausa a meio da manhã parece fazer milagres! Fez-me lembrar quando morava na quinta e os meus avós me preparavam a marmita para fazer piqueniques debaixo de uma árvore. Ou nos dias em que andavam homens e mulheres a trabalhar na terra e a minha avó preparava a cesta cheia de coisas boas. Memórias boas, que felizmente, nem o fogo apaga.
Ingredientes:
2 ovos
1 chávena de chá de leite
2 c. sopa de açúcar
raspa de uma laranja
2 chávenas e meia de farinha de trigo T55
1 c. chá de fermento em pó para bolos
óleo para fritar
açúcar amarelo e canela para polvilhar
Misture todos os ingredientes numa taça e bata bem até obter uma massa homogénea.
Leve o óleo a aquecer num tacho ou fritadeira alta e frite pequenas colheradas de massa. Os bolinhos vão virar-se sozinhos como os sonhos de Natal.
Absorva o excesso de óleo com papel absorvente e passe os bolinhos por canela e açúcar amarelo.
Saboreie com chá ou café acabado de fazer.
6 comentários:
Adoro o seu blog e admiro-a pela força que tem demostrado perante a vida.
Agradeço as palavras querida Paula mas força tem quem perdeu tudo e continua em frente. Esses sim.
Um grande beijinho,
Vera
Que belas palavras e que dão animo a quem tal passou.
A receita é perfeita para comemorar a vida e o novo recomeço de tantas e tantas familias que tudo perderam.
Um bem haja pelas palavras e um beijinho grande para todos os que passaram por tal flagelo.
Beijinhos,
Clarinha
https://receitasetruquesdaclarinha.blogspot.com/2018/10/world-bread-day-e-um-pao-pizza-de.html
Infelizmente também passei por isso (sou de Mação) e sei bem dar o valor a tudo o que aqui escreveu! Um grande beijinho, Célia
Um desespero certamente!
Uma receita fantástica,...
Beijinhos,
Espero por ti em:
strawberrycandymoreira.blogspot.pt
http://www.facebook.com/omeurefugioculinario
https://www.instagram.com/marysolianimoreira/
Uma óptima receita que vem ajudar a mais um trabalho de esforço e dedicação....ainda bem que tem uma excelente força para agarrar as agruras que aparecem....
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